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EXPOSIÇÃO COLETIVA

Curadoria: Ricardo Barbosa Vicente e João Serrão

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“Cartografias Transatlânticas”

de Jacira Conceição, Fidel Évora, Amadeu Carvalho e Carlos Noronha Feio

 

20 junho a 19 julho  > terça a sábado 10h00-13h30 e 14h30-18h00

Galeria de Arte do Convento do Espírito Santo, Loulé

Cartografias Transatlânticas reúne, na Galeria do Espírito Santo em Loulé, no âmbito da XXI edição do Festival MED, quatro artistas cuja ligação a Cabo Verde atravessa a distância e se afirma na escuta, na memória e na criação. Através de linguagens distintas — vídeo, instalação, pintura, cerâmica e som —, esta exposição propõe um percurso sensível entre territórios, identidades e narrativas partilhadas. Mais do que representar o arquipélago, os artistas aqui reunidos propõem formas de o sentir, de o revisitar e de o reimaginar.

Viver fora não é ausência, é extensão. Muitas vezes é na distância que se apuram os gestos de pertença. Os trabalhos apresentados constroem mapas afetivos e políticos, onde Cabo Verde emerge como presença em transformação — um espaço que pulsa nas vozes, nos corpos e nos gestos daqueles que o habitam de múltiplas formas.

Fidel Évora desconstrói a ideia de retrato com Fake Self-Portraits, onde rostos fragmentados e camuflados interrogam as formas como a identidade se constrói e se representa. Os seus trabalhos convocam silêncios históricos e deslocamentos, propondo imagens que não fixam, mas questionam.

Jacira da Conceição apresenta Oráculo dos Búzios, uma videoinstalação de evocação ritual, acompanhada pelas esculturas Aruanda, Abraço II e Lundum. No centro da sala, estas peças interrelacionam-se como numa dança de corpos. A cerâmica torna-se aqui gesto ancestral e memória viva, moldada entre gerações de mulheres africanas.

Amadeu Carvalho apresenta 50 Faces Incógnitas – Retratos de Ausência, uma série de rostos anónimos criados com pigmentos do vulcão do Fogo. São figuras que emergem entre o visível e o apagado, devolvendo espessura e dignidade às histórias por contar.

Carlos Noronha Feio encerra com Uma construção é feita de mais do que memórias dos antepassados…, uma instalação imersiva onde som e imagem se entrelaçam. O mar torna-se aqui arquivo vivo — espaço de trânsito, escuta e imaginação entre ilhas, memórias e possibilidades de regresso.

Estas Cartografias Transatlânticas expandem o território cabo-verdiano para além das suas fronteiras físicas, desenhando uma geografia feita de ecos, afetos e sobrevivências. Um lugar onde a arte é linguagem de reencontro.

Artistas

Fidel Évora

[1984, Cabo Verde]

Fidel-evora

Artista plástico e designer é mestre em Animação Gráfica, pelo BAU Centro Universitário de Artes e Desenho de Barcelona. Um traço claramente influenciado pela arte urbana, graffiti e arte visual contemporânea, que acompanhou a evolução do artista. Mais recentemente, usa muito a serigrafia combinada com a pintura. Em 2011, expõe pela primeira vez uma obra sua numa exposição coletiva, nomeadamente Freedom’s Exhumation. Inspirado pela obra de Orlando Pantera, apresentou, em 2022, a exposição Oxi dretu, manham mariádu, com curadoria de Maria de Brito Matias, na Galeria Movart, que atualmente o representa.

Jacira da Conceição

[1990, Chão Bom, Ilha de Santiago, Cabo Verde]

Jacira-da-Conceicao

É artista visual e investigadora colaboradora do CHAIA Universidade de Évora, onde frequenta o Mestrado em Artes Visuais. A sua prática, enraizada na cerâmica e nas artes tradicionais cabo-verdianas, aborda temas como identidade, insularidade expandida, feminismo e auto-representação. Em 2009, viajou de bicicleta pelo sul da América Latina e viveu no Quilombo de Itamatatiua (Brasil), aprofundando técnicas cerâmicas afrodescendentes e o diálogo entre arte, oralidade e comunidade. Trabalha com cerâmica, têxteis e objetos encontrados, numa abordagem multitécnica centrada na natureza e no imaterial. Foi apoiada pela Fundação Calouste Gulbenkian em diversos projetos, destacando-se Kabelu na Kordon (2022), que explora tinturaria e tecelagem em diálogo com práticas culturais cabo-verdianas. Em 2023, apresentou Tchom Bom no Centro Cultural de Cabo Verde, em Lisboa. A sua obra contribui para uma reescrita plural da história da arte a partir de saberes frequentemente marginalizados.

Amadeu Carvalho

[1985, Cabo Verde]

Amadeu-Carvalho

Artista plástico cabo-verdiano, formado em Artes Plásticas pela Escola Superior de Belas Artes de Lisboa. Na sua prática artística, o artista cria uma linguagem visual envolvente, combinando técnicas de desenho e pintura e explorando o contraste entre cores, luz e sombra. O artista estreou-se com exposições individuais e coletivas, no ano de 2023, com A negrura em mim mancha, no Centro Cultural do Mindelo e Mandinga – Uma paródia mal contada no Centro Cultural de Cabo Verde. Já efetuou diversas residências artísticas nos países de língua portuguesa, de entre as quais em Cabo Verde, Portugal e São Tomé e Príncipe.

Carlos Noronha Feio

[1981, Portugal]

Carlos-Noronha-Feio

Doutorado em Filosofia, pelo Royal College of Art de Londres. Participou de diversas exposições coletivas e individuais e recebeu variados prémios, de entre os quais, o mais recente, no âmbito de uma residência artística no CNAD – Centro Nacional de Arte, Artesanato e Design, em Cabo Verde (2022). Exposições mais recentes, incluem a individual Arkipélg, no CNAD (2023), e participações em exposições coletivas como ver no escuro, em Águeda, Portugal, e uma terna (e política) contemplação do que vive, no Museu Bienal de Cerveira. As suas obras refletem a sua contínua exploração e questionamento das dinâmicas culturais através da arte.