De forma tranquila, Milhanas tem vindo a afirmar-se como uma das vozes mais singulares da nova música portuguesa. Com um percurso ainda recente, mas já profundamente marcado por uma identidade própria, a cantora e compositora lisboeta cruza a tradição do fado com sonoridades contemporâneas, criando um território onde a melancolia e a luz caminham lado a lado. Filha de músicos, cresceu rodeada de canções e instrumentos, mas foi no silêncio da escrita que encontrou a sua primeira casa artística. As palavras, sempre cuidadas e íntimas, revelam um olhar atento sobre o mundo e as emoções. A estreia em 2021 com o single “Lamentos” mostrou logo ao que vinha: uma sensibilidade delicada, uma voz segura, e uma vontade clara de habitar os espaços entre géneros, entre o clássico e o novo, entre a raiz e o risco.
Milhanas não canta apenas fado — reinventa-o, abrindo-o à eletrónica subtil, ao pop de câmara e às texturas que nos últimos anos têm redefinido a canção portuguesa. O seu primeiro EP homónimo, editado em 2022, confirmou esse desejo de experimentar sem perder a alma. Canções como “Mais que ao Sol” ou “Não sei” revelam um talento raro para conjugar tradição e modernidade com elegância e verdade. Em palco, Milhanas é presença serena mas magnética. A voz — doce, grave, com uma ligeira sombra de saudade — envolve quem a ouve e remete para uma linhagem de intérpretes que não se limitam a cantar: contam, revelam, confessam. Agora, com novos temas a caminho e uma crescente presença nos palcos nacionais, Milhanas promete continuar a traçar um percurso ímpar, fiel à herança que a inspira mas sem medo de ir além dela. Num tempo em que a música portuguesa se reinventa a cada passo, Milhanas é uma das vozes que nos faz querer ouvir o que vem a seguir.