Sofiane Saidi

(dz)

É conhecido como o “Príncipe do Raï 2.0” e não é por acaso. Sofiane Saidi, cantor argelino nascido em Sidi Bel Abbès — berço histórico do raï — tem sido uma das figuras mais inovadoras da música magrebina contemporânea, fundindo tradição e modernidade numa fórmula musical que pulsa com alma e eletricidade. Radicado em Paris desde os anos 90, Saidi tem cruzado fronteiras estilísticas com a naturalidade de quem cresceu a ouvir os mestres de Oran, mas sempre com o ouvido virado para os sons do futuro. Depois de colaborações marcantes com nomes como Acid Arab, Natacha Atlas, Smadj ou os míticos Raina Rai, e de uma estreia a solo com o hipnótico “El Morjane” (2015), o cantor regressa às suas raízes para levar o raï a uma nova dimensão.

Em aliança com os Mazalda, coletivo experimental de Lyon, Saidi criou um híbrido vibrante onde o espírito do raï clássico dos anos 80 é reimaginado com saz oriental, percussões norte-africanas, trompas e sintetizadores analógicos — tudo envolto numa sonoridade quente, funky e intensamente contemporânea. É a sua resposta ao raï do terceiro milénio: simultaneamente homenagem e reinvenção. O resultado é um diálogo entre passado e presente, onde a voz lírica e envolvente de Saidi evoca os grandes crooners argelinos enquanto os arranjos de Mazalda introduzem desvios sónicos cheios de groove, humor e irreverência. Esta parceria marca uma viragem — ou talvez uma continuação lógica — no percurso de um artista que sempre soube equilibrar respeito pelas tradições e uma irresistível vontade de experimentar. O raï, que nasceu como música marginal e cresceu nos mercados de cassetes antes de conquistar as rádios internacionais nos anos 90, reencontra com Sofiane Saidi um novo fôlego e uma urgência renovada. Mais do que nostalgia, é música viva, aberta, reinventada a cada batida, como resulta claro quando se escuta um trabalho como “Mademoiselle”.