Num tempo em que a esperança parece um bem escasso, Homem em Catarse insiste em sonhar. O ano passado anunciou novo trabalho com “Gueto da Paz”, tema em que se juntou a Luca Argel, Sara Yasmine (Sopa de Pedra, Retimbrar) e Nuno Prata (Ornatos Violeta, Cara de Espelho) para erguer um refúgio onde a paz não é um conceito vago, mas um gesto quotidiano: dançar sem medo, abraçar quem chega, abrir o coração. “Se a paz for utopia, não devemos recear ser os maiores utópicos do mundo”, escreveu o músico, numa declaração que ecoa o espírito da canção: um convite à resistência emocional num mundo muitas vezes desumanizado. Esse tema anunciou “catarse natural”, o álbum a que Homem em Catarse chegou em finais do ano passado com “10 novas canções que são uma arma”.
Homem em Catarse é o alter ego de Afonso Dorido, multi-instrumentista nascido da fértil cena musical de Barcelos, hoje radicado em Braga. Fundador do coletivo post-rock indignu, iniciou este projeto a solo em 2013, trilhando um percurso emocional e interventivo que o levou de aldeias esquecidas a palcos internacionais. Em 2015, deu nas vistas com o EP “Guarda-Rios”. Dois anos depois, lançou “Viagem Interior”, álbum-conceito sobre o Portugal profundo, com textos de José Luís Peixoto. Em 2020, publicou o instrumental “sem palavras | cem palavras” e surpreendeu em 2021 com “sete fontes”, um disco inteiramente ao piano que o consagrou como uma das vozes mais singulares da nova música portuguesa. Colaborou com nomes como Ana Deus, Manel Cruz, Rodrigo Leão e Old Jerusalem, e marcou presença em festivais como Paredes de Coura, NOS Alive ou Dunk!Festival, na Bélgica. Com “catarse natural”, promete continuar a sua viagem pessoal, onde a utopia não é um destino longínquo — mas um lugar possível, ainda que apenas no canto.