A Garota Não

(PT)

Cátia Oliveira dá pelo nome artístico de A garota não, mas a sua presença no panorama musical português tem sido tudo menos ausente. Com o lançamento do aclamado “2 de abril”, afirmou-se como uma das vozes mais relevantes da nova música portuguesa — uma cantautora que alia a sensibilidade poética à urgência do discurso político e social. Natural de Setúbal, traz na bagagem a herança da canção de protesto, mas reinventa-a com frescura e uma linguagem que dialoga com o presente. As suas canções são marcadas por uma escrita lúcida, intimista e combativa, que procura, nas suas palavras, “tornar os dias mais claros” e devolver alguma esperança a quem se sente desencantado com o rumo do país. “Estamos a atravessar um período de profundo descontentamento…”, afirmou recentemente em entrevista. “Temos um sistema de justiça manco, a educação e a saúde em convulsão, uma crise violentíssima na habitação… e episódios repetidos de representantes políticos envolvidos em esquemas. Cantar sobre o que nos entristece, sobre o que nos dá raiva, talvez nos aproxime. De repente, num concerto, percebemos que somos muitos a querer um país diferente.”

Depois de um ano intenso de estrada com os temas de “2 de abril”, a cantora setubalense regressou às edições discográficas já em maio de 2025 com “Ferry Gold”, um novo álbum em que volta a usar a canção como ferramenta de intervenção. Aqui, o foco recai sobre o direito coletivo ao litoral, em oposição à especulação imobiliária que transforma a costa portuguesa num bem cada vez mais inacessível. Mais uma vez, A garota não protesta o presente para reivindicar um futuro mais justo e habitável. Com ela, a canção volta a ser espaço de reflexão, de memória e de resistência — sem perder a delicadeza nem o espanto.