Photo © Mat Caton
Sete vozes, um tambor e um abismo por baixo dos pés. Barrut não canta apenas — convoca, interpela, rasga silêncios. O coletivo vocal vindo das margens norte do Mediterrâneo está há dez anos a construir uma polifonia visceral que cruza tradição e revolta, raízes populares e pulsões contemporâneas. Formado por três mulheres, quatro homens e um percussionista, Barrut explora o canto como um campo de batalha poético. As harmonias são densas, por vezes hipnóticas, outras vezes brutas como a pedra. Há algo de telúrico nas suas composições originais: um retorno aos fundamentos da voz, onde o som não é adorno mas expressão vital, quase grito.
Inspirado nos cantos polifónicos ancestrais, o grupo não se limita à herança: reinventa-a com a urgência do presente. A percussão, cortante e precisa, sustenta a tensão permanente que atravessa as suas atuações — concertos que são rituais, espaços de resistência, encontros entre o íntimo e o coletivo. O corpo ouve, mas também balança, vibra, reage. Mais de quatrocentas apresentações ao vivo depois, Barrut mantém intacta a sua missão: explorar a palavra, afinar a escuta, transformar a música em território de expressão radical. E “Travèrsas”, o mais recente álbum do coletivo gaulês, é a prova de que a voz humana é o mais poderoso dos instrumentos.