Photo © Vasco Ribeiro Casais
Depois de quase duas décadas a explorar o património musical português em projetos como Dazkarieh e Seiva, Joana Negrão apresenta-se agora como A Cantadeira, um novo trabalho a solo onde a tradição oral ganha centralidade e profundidade através da experimentação vocal. Cantora, letrista e instrumentista, natural de Setúbal, Joana tem desenvolvido uma carreira que cruza investigação e criação artística. Formada em História e Arqueologia, tem-se dedicado ao estudo do património imaterial português, com particular foco na música tradicional de raiz oral, frequentemente invisibilizada. Essa pesquisa tem vindo a alimentar os seus projetos musicais, nos quais a dimensão ritual, feminina e coletiva das canções populares ocupa um lugar central.
Em A Cantadeira, a artista dá um novo passo, construindo peças sonoras com base exclusivamente na voz, gravada em tempo real e sobreposta em camadas. O resultado é um corpo musical orgânico, denso, em que a voz se transforma em ritmo, harmonia e textura. O disco de estreia, “Tecelã”, lançado em maio de 2024, foi bem recebido pela crítica — distinguido como “Disco Antena 1” e com destaque em rankings internacionais de World Music. A Cantadeira marca uma viragem estética e simbólica, ao recentrar a voz como elemento primordial de criação e transmissão. Com este projeto, Joana apresentou-se no Festival da Canção 2025, levando para o palco uma proposta enraizada na tradição, mas com linguagem contemporânea — uma síntese que tem pautado todo o seu percurso.