Ana Lua Caiano

(PT)

Há artistas assim, que surgem de repente para abalar certezas e abrir novos caminhos. Com apenas dois EPs editados, o seu grande segredo – ou digamos antes o seu maior talento – é capacidade de juntar música tradicional portuguesa com eletrónica. E nesta total exploração da fusão musical, consegue criar melodias, porque é disso mesmo que se trata, a remeter para uma tradição perdida no tempo, com recurso a coros e harmonias, mas também para a vida do quotidiano, com sintetizadores, beat-machines e samples de “sons do dia-a-dia”, trazendo a herança popular portuguesa para o mundo moderno, através do eletrónico e do tecnológico. Deu-se a conhecer apenas no passado, com o single Nem Mal Me Queres, embora a música seja uma paixão antiga: ainda muito nova começou a tocar piano e mais tarde tirou um curso no Hot Clube de Portugal, enquanto concluía a licenciatura em Design de Comunicação. Algures em 2020, enquanto trabalha em bandas sonoras, começa a coser as primeiras linhas deste inovador projeto musical, que dá tanta importância às palavas como à música que as embrulha. Isto é ainda mais notável quando se tem em conta que Ana Lua Caiano é uma “one woman show”, que apenas com um sintetizador, um microfone, o sempre presente bombo e vários instrumentos de percussão, cria várias camadas sonoras em tempo real, através da sobreposição de loops. Entretanto já editou dois EPs, Cheguei Tarde a Ontem (2022) e Se Dançar é Só Depois (2023) que a consagraram, em definitivo, não como mais uma esperança, mas uma das mais consistentes certezas a surgir na música portuguesa nestes últimos anos.