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Há quem diga que um concerto dos The Congos é mais do que música — é uma experiência espiritual. E não será exagero. Cedric Myton, Ashanti Roy, Watty Burnett e Talash (o membro mais recente) mantêm viva a chama do roots reggae com a mesma formação essencial desde os anos 70, uma raridade no panorama musical jamaicano. A coesão do grupo sente-se em palco, onde cada atuação é conduzida como um verdadeiro ritual rastafári, marcado por harmonias vocais que se tornaram icónicas. A identidade dos The Congos consolidou-se em 1977 com “Heart of the Congos”, álbum mítico produzido por Lee “Scratch” Perry nos lendários estúdios Black Ark — um disco que figura, com justiça, entre os marcos absolutos do reggae. Faixas como “La La Bam Bam”, “Congo Man” ou a inesquecível “Fisherman” (apontada pela Rolling Stone como uma das dez melhores canções de reggae de sempre) revelaram ao mundo um grupo com uma sonoridade distinta, guiada pela espiritualidade rasta e por um compromisso inabalável com as suas raízes.
Fundados em 1967 por Albert Griffiths, os The Gladiators foram desde cedo inspirados pela luta e resistência simbolizadas no filme Ben-Hur. Essa metáfora ecoou naturalmente entre a comunidade rasta e em canções como “Roots Natty” ou “Bongo Red”, que se tornaram hinos do roots reggae dos anos 70. Mas foi com “Trenchtown Mix Up” (1976), lançado pela Virgin, que conquistaram projeção internacional, atuando ao lado de Toots & the Maytals, U-Roy e Jimmy Cliff na Europa e nos Estados Unidos. Agora, décadas depois, The Congos e The Gladiators cruzam caminhos para uma digressão conjunta que promete não só celebrar o legado do reggae clássico, mas também reafirmar a sua atualidade e vitalidade. Para os que ainda acreditam que a música pode ser um ato de fé e resistência.